11.21.2007

"...Quem será?"


Estou sentado... um mágico bulício à minha volta … de onde vem?! … O que será? Onde pertence este murmúrio …? Uma melodia, uma voz ténue que me invade a mente …uma força que está presente mas não se deixa ver. Será o mundo? Será a Terra …? Uma entidade com voz própria.
Estou sentado à beira mar, o sol está-se a pôr, o céu transforma-se numa verdadeira obra de arte. Roxo, Lilás, amarelo, laranja … todas estas cores, actuam no palco celeste, dançando suavemente, ordeiramente … cedendo o seu lugar ao dominante azul-escuro à medida que o sol se despede com promessas de um rápido regresso.
Uma brisa fria toca-me no rosto … fazendo-se sentir quando me abstraio dela, como um cachorro simpático que precisa de atenção … suavemente acaricia-me a cara para que eu tome consciência da sua presença … mas apenas o suficiente para me fazer levantar a cabeça … talvez seja um pedido de ajuda … um ser desesperado a tentar entender a mão … uma pobre alma infectada … destruída … suplicando pela sua vida …
Enquanto estou aqui sentado a ser invadido por toda esta beleza, o tempo pára, e tudo faz sentido … não consigo deixar de pensar que existe mais qualquer coisa por detrás desta densa camada material … não sei o quê … mas sinto qualquer coisa …

Provavelmente poderia procurar até aos confins do Universo para no fim encontrar-me a mim próprio … mas até isso seria uma resposta.

11.06.2007

Sinceridade

Sinceridade

Dou por mim muitas vezes a pensar no que será realmente ser sincero.
Ser verdadeiro com o mundo em todas as vertentes é um desafio pessoal colossal se não mesmo intangível.
Se ponderarmos bem no assunto conseguimos reminiscir à fase mais pura das nossas vidas, a 1ª fase da nossa infância, a única fase em que a sinceridade é praticada em todo o seu esplendor.
Apenas uma mente virgem consegue reproduzir tal mito. Mas mesmo nessa altura, ao contrário daquilo que entendemos como sinceridade, somos deparados com uma cruel forma de expressão, que nos faz pensar duas vezes na beleza do que é ser sincero.

“Mãe tas gorda”
“Cheiras mal”
“Pai estás a ficar careca”
“A mãe do João é mais bonita do que tu”

Por vezes ser verdadeiramente sincero é ter livre-trânsito para ser inocentemente cruel.

Quando crescemos, e aspiramos o fumo do preconceito, aprendemos sobre o cinismo, ganhamos auto-estima e vamos ganhando “vergonha na cara”, inteligentemente, ou inconscientemente apercebemo-nos que ser sincero ou receber uma boa dose de sinceridade “pelas trombas abaixo” pode ser uma experiência extremamente desagradável … e por vezes moralmente e civicamente incorrecto. Passamos nesse momento a ser aquilo que gosto de chamar uns grandessíssimos “Seres Humanos”.
É interessante o facto de uma pessoa sincera ser uma muitas vezes rotulada de “boa pessoa”. Errado! O brilhante das boas pessoas ditas “boazinhas”, é exactamente a sua afinidade para pôr a sinceridade de lado, e optarem por ser assertivas em qualquer situação, conseguindo suprimir a sua natureza grotesca, subjugando-a com um filtro de bom senso . Negar os nossos impulsos mais íntimos torna-se o auge da nossa racionalidade.
É claro que se pode falar de “boa educação”

Educação:
do Lat. Educatione; s. f., acto ou efeito de educar; aperfeiçoamento das faculdades humanas; polidez; cortesia.

Cortesia:
s. m., dedicação pelo interesse público, pela pátria; patriotismo.

Boa educação não passa de um agente modulador da sinceridade. É um filtro que elimina os nossos pensamentos negativos, perversos e muitas vezes obscenos, e os torna em hipocrisia socialmente aceite. Mesmo que a mensagem se mantenha, o resultado mágico da influência bruta do nosso sistema límbico, foi moldado pelo hipócrita do córtex. Para ser cortês, bem-educado, é preciso por acima de nós próprios o interesse público, e isso é exactamente o contrário de ser sincero (apenas quando o interesse público vai de encontro com os nossos mais espontâneos pensamentos podemos dizer que isto não é verdade).
Portanto a supressão ou polidez da sinceridade, não passa de uma forma de censura sem a qual o convívio humano seria uma pouco como um jogo de final de campeonato entre o Benfica e o FCP. Basicamente “armas e bombas e socos nas trombas”.

Acredito que encontrar verdadeira sinceridade no coração de um Humano adulto é como procurar um trevo de 4 folhas… todos nós ouvimos falar que existem, e eventualmente conhecer alguém que já encontrou, mas quando nos dedicamos a procurar, nunca conseguimos encontrar nenhum.

Continuamos a viver num mundo de falsidade, e julgamos o próximo segundo aquilo que não gostamos em nós próprios. Mas de outra forma não seria possível …

Lembro-me de crescer a ouvir as frases:

“Ricardo não podes dizer isso … não está certo”
“ … Só pensas em ti … eu também tenho sentimentos… “
“Ricardo tens de te controlar, não podes dizer tudo o que te vem cabeça”

E no fim destes ensinamentos e formatação mental… eis que surge o verdadeiro dogma:



“Faças o que fizeres… tens de ser sincero contigo próprio”


Hypocritical bull shit …. !

11.04.2007


A estupidez pode ser nossa aliada?! … Recentemente pude constatar que por vezes a estupidez nos pode ser útil!

Por entre células receptoras adormecidas, conexões sinápticas disfuncionais por neurotrasnsmissores atrasados, e células nervosas a fazerem coffe break … é possível formar o comportamento mais comum no zoo da civilização Humana … a Estupidez … ou vulgo parvoíce. Mesmo que o seu significado seja:

Estupidez -qualidade do que é estúpido; falta de inteligência, de juízo, de discernimento.

Estúpido - do Lat. stupidu, admirado adj. e s. m., Falto de inteligência, de juízo ou discernimento; que está sob a impressão de estupor; atónito; ant., entorpecido, insensível.


Parvo - do Lat. parvu ou parvulu adj., pequeno; apoucado de juízo ou entendimento; idiota; s. m., indivíduo parvo ou atoleimado.


... a sua significância qualitativa é por vezes injustamente subestimada. A estupidez pode por vezes formar as mais brilhantes situações, e devido a esta linda habilidade muitos ser humanos espalhados pelo globo regozijam sobre afortunados episódios. Qualquer um de nós pode enunciar inúmeros destes episódios baseando-se somente nas suas próprias vivências… desde situações fortuitas, situações estupidamente premeditadas, ou simples e pura estupidez inata. Muitas são as formas que a estupidez toma e muitas são também as suas consequências. Já me apaixonei estupidamente, já sofri estupidamente, já me zanguei estupidamente, já caí estupidamente, já chorei estupidamente, já me ri estupidamente.


Entendemos um acto estúpido como algo errado, incorrecto, em vista de ser evitado ou melhorado. Pois eu acho que é mais um elo na cadeia, mais uma força que nos orienta, que nos transforma, e constrói aquilo a que chamamos existência, e sem a qual não poderíamos ser quem somos. Eu classifico a Estupidez como um elemento caótico activo que influência o próprio espaço-tempo no quotidiano de cada um de nós.


Ser estúpido é uma arte que nem todos conseguem dominar. Assim como qualquer arte, expressa beleza, técnica e trabalho duro, e pode ser avaliada e apreciada segundo vários estilos pessoais e culturais, e ao mesmo tempo ser intemporal e Universal.
A própria elaboração deste texto, poderá ser vista por muitos como uma “estupidez”, incluindo eu próprio. No entanto não deixa de ser fruto de uma criação elaborada, original e até sujeita a alguma pesquisa e dedicação.


Quando falo da palavra beleza, esta não só define o que é belo ao olhar mas também ao intelecto, qualquer coisa que cria admiração, sendo que admiração não é uma palavra com carga somente positiva, a estupidez pode ser entendida com discrepâncias grandes entre observadores. O que a torna um agente muito maior e mais influente do que a maioria das pessoas acredite. Se bem que seria uma estupidez as pessoas pensarem nisso … tirando eu que … bem … sou estúpido!